31.12.07

Finale

A última, a final, a derradeira postagem de 2007!!!

E o assunto será: o que eu gostaria de fazer com este blog. Sim, porque tenho escrito coisas que podem ser escritas, algumas até que devem, mas não tenho liberdade para escrever aqui o que quero. Se isso fosse feito, estaria despedido de todos os empregos e preso por alguma coisa que não sei qual é.

Mas que vem me dando uma vontade enorme, vem dando sim. Arrisco?

É bem provável então que em 2008 eu seja preso. Uma boa troca para que algumas coisas sejam esclarecidas. Ademais, tenho direito à cela especial. Se puder levar todos os meus livros e um ventilador, não será nada muito diferente do que passo hoje.

E.C

Comi a autobiografia do Eric Clapton. É uma milagre que aquele homem ainda esteja vivo. Mas o importante do livro não foi isso. É a primeira vez que leio uma biografia, e este fato, por incrível que pareça, me ajudou um tanto. Comecei a colocar as minhas coisas em perspectiva, como se estivesse escrevendo a minha própria autobiografia.

É um bom modo de aprender a se dedicar às coisas importantes e não perder tempo com babela.

Feliz 2008!!!

P.S - Tenho umas 254 possibilidades para a última postagem musical do ano. Portanto, talvez passe de uma.

22.12.07

Da série: coisas que eu não entendo

Cruzeiro

Vi a foto de uma amiga minha num cruzeiro. Pessoas fazem cruzeiros.

Aí eu fiquei pensando nisso: o que é fazer um cruzeiro? E cheguei à seguinte definição:

- Fazer um cruzeiro é ficar trancafiado 7; 10; 15 dias num hotel que balança e que pode afundar.

E o que há de legal nisso?

O primeiro dia deve ser ótimo, mas depois eu não quero sequer imaginar.

A vantagem?

Bem, é chique. Dá status. E...

Ainda prefiro o meu ventinho de Pringles.

19.12.07

O funcionamento da classe

Depois vocês dizem que eu sou chato, que eu exagero, que eu fico pegando no pé da "classe artística".

Da Folha de hoje:

FOLHA - O governo já disse que não pára as obras. Como a sra. avalia isso?
LETÍCIA SABATELLA - A gente vê a decisão de dom Luiz de abrir mão da própria vida e de chamar a atenção para uma causa que vai atender às gerações futuras, e, ao mesmo tempo, vê o governo tão apegado à uma idéia de transposição e à idéia de modelo de desenvolvimento calcado no lucro de alguns.

FOLHA - A sra. acha que o governo Lula está fora da linha para a qual foi eleito?
SABATELLA - O Lula foi feito e construído através do empenho dele, é claro, e dos movimentos populares. Com a chegada do Lula, se acreditava numa democracia popular. Começou a ter isso num determinado momento, mas com o PAC, com essa política de aceleração do crescimento, vai aumentar o trabalho escravo, aumentar a prostituição infantil e não se faz uma reforma agrária. Com o PAC, há um retrocesso.

Percebam o tamanho da paçoca que esta mulher fez. É por isso que a "classe" sempre se identificou e defendeu o PT com unhas e dentes. A ordem do discurso é a mesma.

Se eu tivesse algum poder político obrigaria todo brasileiro a ler, decorar e fazer exercícios sobre o "Discurso sobre o método", de Descartes. Nada mais do que isso. Um livrinho de 100 páginas. Só. Não duvido que o país melhorasse uns 758% em duas gerações.

P.S - Bem, ao menos a moça é linda, disso ninguém pode reclamar. Quem sabe se o barba fosse mais bonitinho...

18.12.07

E aos 33 com o retorno de Júpiter...

Talvez alguém esperasse um texto sobre meu aniversário. Um texto bem escrito, paciente, colocador das coisas em seus lugares. Pois bem: simplesmente não há tempo para isso. Aos 33 anos não se tem muito tempo para repassar o que acontece na cachola.

O que o tempo me permite dizer é algo ralo, rápido, esfumaçado. Entretanto, não por isso, desconsiderável.

O período transcorrido entre os dias 08/12/06 e 08/12/07 foi o mais intenso destes anos todos. Leiam bem: anos todos. Nunca tantos acontecimentos agudos, exteriores e interiores, transcorreram com tanta freqüência e celeridade.

Muita alegria, muitos dias bons, muito sol. Muita doença, muita histeria, muita dor. Amigos novos, paixões novas, trabalho novo. Perdas doloridas porque perdas morais, readeqüações, tentativas, desistências.

Um filho novo porque mudado e uma mãe nova porque mais sábia - os anos farão com que os motivos desta fala sejam esquecidos; não ligo.

Comecei o ano com um amor que era amor, mas amor de amigo, e soubemos reconhecer, e talvez nos amemos mais agora e pra sempre.

Comecei o ano com o pé torcido.

Reconheci, definitivamente, o valor e o lugar dos meus amigos. Ganhei uma amizade nova, e das grandes.

Recoloquei minha cabeça no lugar, valorei outras coisas, e terminei o ano com o pé novamente torcido.

Terminei o ano com uma amizade que não é amizade, com algo que não vai dar em nada mas que é a minha mais nova perturbação del cuore.

Sim, meu coração se perturba. E agora é só isso.

O resto é leve, bem leve.

Quanto valeu a parada

Fabiano passeando feliz e lépido pelas ruas do centro de Campinas.

Lá, lá, lá, lá, lá - tchu tchururu tchutchu tchu tchururu tchuchu - Ah, que legal, faz tempo que eu não entro na Pontes!

Informação no mezanino - Qualquer livro a 10 pila. Hummm, será que tem coisa boa aí?
Olha, olha, olha - uns Engels, uns seres desconhecidos...
- Moço, tem mais estas caixas aqui ó, se quiser dar uma olhada...
- Ah tá, obrigado.
Hummm, interessante este - e põe o livro debaixo do braço. E mais este também. Hummm, e mais este.
Começa a desconfiança: mas será que estes aqui custam mesmo dez reais? Já sei, vou perguntar e passar vergonha porque é óbvio que eles não custam dez reais.
- Hei, estes também a dez reais?
- Sim, isso mesmo.

Uau, que maravilha - cambalhotas, beijo na boca da vendedora, coração desenhado com dedos no ar - três ótimos livros por trintinha!!!

Mas não basta pegar a oferta, tem que saber quanto se ganhou na coisa.
Chega em casa e vai pro micro - O Tambor/ Günter Grass - R$ 49,00 - Jung, A biography/ Deirdre Bair - R$ 49,80 - New Horizons in the Study of Language and Mind/ Noam Chomsky - R$ 74,00.
OK, 174 menos 30, 144.
Ô loco, por estar no lugar certo na hora certa, R$ 144,00!!!

E Fabiano sai pela sala feliz e lépido, imitando uma borboleta...

Key to Reserva: Martin Scorsese, Alfred Hitchcock, Herrmann

Fantástico!!!

Não deixem de ver...

4.12.07

Gisele Bündchen (texto atrasado)

Eu agora assino a Newsletter da agência Carta Maior. Sabem como é, né: não posso ficar lendo coisas vindas de um só lado. Na verdade, nunca fiz isso, o que me possibilitou a escolha pelo flanco mais lógico e coerente da batalha. Acontece que eu havia deixado a leitura do outro lado um pouco sem rédeas, à solta, sem a devida voracidade.

Resolvi mudar. Mudar para ser o mesmo. Leiam o texto abaixo e ficará fácil entender o porquê. Meus comentários vão depois.

De novo nossa imprensa comeu bola sobre a Venezuela. Em 2002 foi aquela vergonha dos nossos semanários e comentaristas saírem soltando foguetes na sexta-feira cantando em prosa e verso a queda de Hugo Chávez, enquanto no domingo à noite nele reentrava vitoriosamente no Palácio Miraflores reconduzido pelo povo e por militares legalistas que rejeitaram o tradicional papel sujo que as classes dirigentes sempre atribuíram às Forças Armadas na América Latina.

Desta vez foi o contrário. Embalados por bocas de urna duvidosas, comentaristas no domingo à noite e os jornais conservadores na segunda pela manhã anunciavam a vitória do “sim” no plebiscito venezuelano. As violas, violinos, guitarras, cellos e trombetas já se afinavam à torto e à direita. Seria uma vitória “apertada” numa “Venezuela dividida” e que permaneceria dividida enquanto Hugo Chávez permanecer no poder. Também se lançaria mão dos conhecidos acordes das “instituições em perigo”, do “enterro da democracia”, e por aí afora e adentro.

Pois o “não” ganhou. De repente, passou a importar pouco que as diferenças nas duas partes do plebiscito ficaram em torno de 1%, 1,5%. As manchetes do conservantismo proclamaram em uníssono: “A Venezuela”, assim em bloco, “A Venezuela disse não à reforma de Chávez”.
De quebra, ainda no domingo, falava-se da pesquisa sobre terceiro mandato no Brasil como se a rejeição a essa proposta fosse uma “derrota” para Lula. Enfim, é ainda a busca pelos derrotados em outubro do ano passado por impor alguma “derrota”, seja ela qual for, à vitória de Lula que tiveram de engolir.

Voltando à Venezuela. A vitória apertada do não e as reações subseqüentes confirmaram duas teses que estiveram presentes nas análises aqui da Carta Maior.

A primeiro é a de que o projeto de Chávez passava por dificuldades, que perdera apoios importantes e que as radicalizações do discurso do presidente venezuelano no plano externo visava provocar uma coesão que lhe faltava. Chávez embrulhou importantes e democráticas reformas no plano social com uma abertura para uma continuidade ilimitada no poder, o que provocou dois resultados complicados:

1) Perdeu apoio entre a intelectualidade e em setores do campo estudantil. Pode ser que setores universitários tenham se sentido ameaçados em suas prerrogativas pelas propostas igualitaristas que vinham no bojo do plebiscito. Mas houve uma perda de “impulso ideológico” que abriu espaço para posições contrárias às reformas. O plebiscito, tão complexo em sua totalidade, tendeu a se transformar na resposta a uma única questão, se Chávez poderia continuar indefinidamente na presidência, até que a morte os separasse (não são tolices as alegações de que ele possa ser assassinado), ou não. Isso “emparedou” o plebiscito e, se de um lado, mostrava a força do carisma do presidente, de outro expunha uma das fragilidades do movimento bolivariano, que é a dependência com exclusividade do comandante e do comando de Hugo Chávez. É verdade que, confirmando tese de Max Weber recentemente lembrada por José Luís Fiori em entrevista à Folha de S. Paulo, na América Latina tradicionalmente políticas inclusivas sempre foram bandeira de políticos carismáticos, de estilo acaudilhado e acaudilhantes, nunca dos nossos políticos liberais, que em geral representam aqueles que não se liberam jamais da visão de seus foros de privilégio e de benesses estatais chamadas de “investimento”. Vejam-se os exemplos históricos de Vargas, Perón e Cárdenas

2) A segunda tese presente em análises na Carta Maior foi comprovada, pelo menos de momento, pela reação do presidente Hugo Chávez ao resultado negativo no plebiscito. Ao contrário da direita venezuelana, que não aceitaria a vitória do “sim”, e da direita internacional, inclusive na imprensa, que já preparava a tese da fraude eleitoral, Chávez aceitou de pronto o resultado, ainda que declarasse que o projeto continua de pé. Sua declaração sobre a manutenção do projeto não contraria prática democrática nenhuma. Por exemplo, o projeto de independência ou de maior autonomia do Québec em relação ao restante do Canadá já foi plebiscitado duas vezes nos últimos 28 anos, sem que se levante um único comentarista irado dizendo que isso afronta a democracia. Na América Latina quem volta e meia não respeitou resultado eleitoral ou plebiscitário foi a direita, ou dando golpes depois ou mesmo antes, como nas recentes eleições mexicanas, seguindo o exemplo inaugurado pela “eleição” de Bush filho com a trucagem na Flórida. O comportamento de Chávez comprovou nosso comentário de que na Venezuela sim dividida entre uma massa popular permanentemente excluída da vida republicana e dos direitos da cidadania e uma minoria de privilegiados que patrocinavam um sistema político fechado e inextrincavelmente corrupto, Chávez é um ponto de equilíbrio, e não o contrário.

As manchetes conservadoras se perguntam com estardalhaço qual será agora o futuro de Hugo Chávez e de seu governo. É bom nos perguntarmos qual será o futuro da direita venezuelana, impulsionada por esta inesperada e até incômoda vitória no plebiscito de domingo passado. (Incômoda porque lhe traz a obrigação da democracia, o que é um peso para ela). Retomará sua inspiração golpista que pode lançar o país numa guerra civil?


Estou aqui

Vejam vocês o que é um texto modelo de passarela, um texto símbolo sexual: muito bonito, bem escrito mesmo, mas sem um mínimo de conteúdo. Tadinho!

Pra quem estava no mundo real neste domingo, e não no fantástico mundo de Bobby, a explicação para o comportamento da imprensa brasileira, quiçá mundial, é de uma de uma obviedade até chata.

A primeira notícia que eu, simples mortal (e todas a agências, inclusive a Reuters) recebi sobre o referendo foi a seguinte: pesquisas oficiais de boca de aurna anunciam a vantagem de 10% do Sim. Outros números foram anunciados mas tão logo Chávez soube das informações veio com a sua emblemática democracia: se divulgarem outros dados que não os fornecidos pelo governo, mando fechar o veículo divulgador, ou seja, o canal de rádio ou TV.

Daí se seguiu:

a) O Conselho Eleitoral deveria dar boletins de hora em hora sobre a
apuração, iniciando os trabalhos por volta de 21h ou 22h (horário do Brasil).
b) Esses boletins não foram divulgados e, no lugar deles, "porta-vozes" anônimos do governo começaram a divulgar loucamente os resultados da boca-de-urna e a afirmar que a oposição já sabia o resultado do referendo e deveria se comprometer a acatá-lo.
c) A oposição, ao menos desta vez, agiu inteligentemente e não mordeu a isca. Não gritou "fraude" — acho que era o que pretendia o governo, a fim de encontrar um meio de melar o jogo.
d) Por volta de 2h30 no Brasil, um "porta-voz" anônimo do Conselho Eleitoral anunciou misteriosamente que os resultados seriam entregues aos blocos (governo e oposição) antes de serem divulgados.
e) Menos de uma hora depois, subitamente, o Conselho Eleitoral divulgou a vitória do "Não", e Chávez reconheceu a derrota, mas com um detalhe importante: derrotado por enquanto, disse ele.

Agora outras coisas: a diferença de 1 e 1,5% é balela, porque metade da população venezuelana não compareceu às urnas. Por que será? Lembrando que a votação ocorreu por pacotes, sendo que aquele que continha o Sim para a principais mudanças, dentre elas a reeleição, também alterava a carga horária de 8 para 6 horas diárias. Falcatrua? Claro que não, isso é coisa da nossa mente pervertida que não entende a revolução democrática bolivariana.

Agora uma pergunta: e se o DEM resolve propor e agir aqui no Brasil da mesma forma que Chávez, como a moçada velha ou a velharada moça vai nomear as mudanças?