31.3.07

Estes meus dias

Este é um pedido de desculpas feito por alguém que tem errado muito.

É, antes de mais nada, um acerto de contas comigo e para com você.

Sim, porque se você lê este blog é bem provável que eu tenha errado ou venha errando muito no que diz respeito à você também. Isto porque eu, e é bom que todos saibam, nos últimos tempos não tenho sofrido enxovalhos e calado: tenho cometido enxovalhos, muitos, e calado.

E quanta besteira, e quanta dor, e quanta mágoa eu tenho gerado. Passe na fila quem os quiser; conheçam-me os que tiverem vontade.
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Mas por quê? Por que tenho feito isto?

Não sei. Simplesmente não sei. Se soubesse talvez interrompesse o processo, colocasse as coisas em seus devidos lugares, ficasse mais leve. Será? Talvez...
Porém, de qualquer forma, não, não é isto que tem acontecido: Fabiano tem conseguido cometer erros sobre erros, enredá-los e enredar-se neles a ponto de sufocar a si e aos outros.

Êta Fabiano de merda!

Olha, eu não sou assim não viu, ao menos intencionalmente falando. O fato é que nunca havia me posicionado verdadeiramente na minha vida de uma forma tão ampla e agora, que eu tentei fazê-lo, vi que não nasci pra coisa. Nasci pra que a vida me leve mais do que eu a coordene. Nasci pra ser um tanto quanto espectador. Ao menos isso agora eu entendi.

Mas como desfazer-me dos nós que criei? Das imensas dores que tenho causado, incluindo nelas as minhas próprias...?

Não sei não. Parece-me que as minhas ficarão, se eu não conseguir resolvê-las mesmo, eternamente na minha consciência de culpa. Eternamente na minha história. Moldarão minha vida como uma condenação: sim meus caros, os desastrados também são condenáveis!

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Perdão, eu peço. E se você não sabe ainda o motivo do porquê deste perdão, como já disse, um dia saberá.
Estou realmente machucado pelos cortes que tenho feito, putrefato: a minha ferida é obviamente a soma das que produzi ou ainda produzo em todos.
E como algumas foram profundas! E como algumas foram duras! Talvez irrecuperáveis. Outras ainda o serão. Sei disso.

E então, por fim e por conta de tudo, peço um favor: leia o meu pedido de perdão na justeza das dores que causei. Saiba que entendo e sinto cada queimadura, cada enrijecimento, cada fechamento trazido pela minha fala, pelo meu ato confuso, pelo meu pedido, pelo meu pensamento, pela minha negação.

Não sei onde isto vai parar. Gostaria de ter coragem pra dizer tudo pra você, mas acredito que minha consciência baste.

Perdoar não é algo simples, sei disso. Mas jamais devemos dizer nunca, ainda que achemos que seja difícil – isto é o que tenho ouvido ressoar na minha caixa craniana.

O que me fica, de modo piegas assim, é a esperança.

25.3.07

Voltei

Antes de tudo quero deixar claro que continuo escrevendo aqui.

A questão do desaparecimento se deve a um fato isolado e simples: o micro que agora uso não tem capacidade suficiente para lidar com o blog. Fico então escravo das tentativas, da vontade de algo sem consciência me deixar fazer a coisas. Hoje parece que dará certo.

Tenho 5673 assuntos a comentar. Coisas das quais não darei conta. Coisas sobre as quais gostaria de escrever muitas e mais páginas, por isso desconverso de início já que a preguiça se antecipa.

E preguiça por desânimo antes de mais nada. Preguiça que me dá por lido na Caros Amigos, a revista-piada, que um sujeito de renome chamado Ricardo Antunes tem a inescrupulosidade de dizer que o governo de Chávez é a maior democracia da América Latina.

Preguiça de ver que histórias aqui se repetem de modo triste, como a de letrista = poeta = intelectual. Será que deveria haver censura pra isso?

Preguiça da opinião.

Fernando Pessoa, travestido de Bernado Soares, disse sobre coisas que fazem parte de uma chamada infância da inteligência. Pois bem, somos a nação Peter Pan. No máximo involuímos.

Lembram-se da época em que nos achamos espertos por, virando a realidade de cabeça pra baixo, acreditarmos descobrir a verdade? Pois bem, a coisa aqui anda assim. É só dizer o contrário que resolvemos o problema. Este é o único método da inteligência tupiniquim. Inverter e pronto. Dizer e pronto. Fantasiar e pronto. Êta criançada...

7.3.07

Ainda e sempre sobre...

Pra quem não está sabendo do assunto, há uma discussão correndo à solta por conta de um texto do Renato Janine sobre a morte do menino João.

Texto equivocado, esquisito, mas esperado por ter vindo de onde veio.

Neste Domingo a Folha publicou uma espécie de "resposta" do amigo da Marilena, juntamente com links para os textos ou de crítica ou de defesa.

Um dos textos foi escrito pelo Giacóia, e me chamou a atenção. Com certeza o mais bem construído deles, o de melhor conteúdo. Citações (de Nietzsche) muito precisas no que diz respeito à discussão em voga, e uma colocação muito pertinente sobre a questão da pena de morte no Brasil. Uma colocação não pautada em bobagens religiosas ou de cunho "humanitário", que é apenas o que se vê por aí.

Agora, o que me resta de comentário sobre todo este alarde é: por que não chamar logo gente com discernimento mínimo pra falar sobre o assunto, evitando tudo o que ocorreu? A resposta é óbvia e não precisa entrar aqui.
Mais uma vez se prova que é mais do que necessário dar voz a quem tem, e não a quem grita. E que quem grita está ficando velho e ficando pra trás (não, está não é uma relação de inerência). Convence apenas a alguns poucos, que estão perdidos perdidos. Uma prova estava lá, na mesma edição, com a corretíssima participação do Renato Mezan.

Uma outra possibilidade de resposta da minha pergunta pode ser dada pensando-se na venda dos jornais. Mas não, não acredito que seja isso. Ou então a capacidade de a filosofia brasileira pensar o país estaria sendo posta em xeque por conta de um acordo. Será eles tiveram coragem até disso?

Bem, coloco abaixo o texto do Giacóia.

5.3.07

O INSUPORTÁVEL não é a dor, mas a falta de sentido da dor, mais ainda, a dor da falta de sentido. João Hélio, morto aos seis anos, arrastado em macabra agonia pela Cidade Maravilhosa, nos confronta com a abominação. Tais espasmos de brutalidade repõem, com insistência, a antiga pergunta pelo "porquê" da insânia. Por que a atrocidade?

Revoltados e humilhados, assalta-nos o desejo e a busca pelo sentido. A reação indignada, até desesperada, exige razões e providências -pois, como se sabe, "razões aliviam".

Uma das reações mais compreensíveis é: "O que fazer?" De pronto, exigimos a paga, clamamos por vingança, como por justiça. A competência jurídica é, então, requisitada: penas mais drásticas, rebaixamento do limiar de imputação penal, repressão severa e ostensiva, pena de morte. Com a solidariedade humana na dor, mescla-se a inevitável preocupação com a segurança própria e a da sociedade. Não é admissível que a sociedade permaneça refém da criminalidade.

Não é meu intuito minimizar o pungente sofrimento que assola a família, os amigos de João Hélio, enfim, toda pessoa sensível. No entanto, por penoso que seja dizê-lo, o açodamento das reações emocionais não é um bom companheiro do prudente equilíbrio que deve balizar nosso juízo e discernimento nessas ocasiões. É justo que exijamos punições exemplares. Mas não que nossa indignação se nutra no desejo de vingança.

Exigir a paga do sofrimento na medida do "jus talionis" não me parece justo ou justificado. Suplantar o espírito da vingança, mesmo no direito, é talvez o difícil caminho de auto-superação que uma sociedade pode encetar.

A esse respeito, Nietzsche tem muito a nos dizer. Lê-se num de seus textos: "O último terreno conquistado pelo espírito da justiça é o terreno do sentimento reativo! Quando ocorre, de verdade, que o homem justo seja justo inclusive com quem o prejudicou (e não apenas frio, comedido, estranho, indiferente: ser justo é sempre um comportamento positivo), quando a elevada, clara, profunda e suave objetividade do olho justo, do olho julgador não se turva nem sequer sob o assalto de lesões, escárnio, imputações pessoais, isso constitui uma obra de perfeição e de suprema maestria sobre a terra".

Não é indiferença, mas justiça positiva. Não é tibieza, apatia, tolerância irresponsável, concessão ao fácil perdão de boca para o qual fomos adestrados por milênios de civilização. Não me refiro a essa fachada de tolerância, desfeita pela mais tênue ameaça de lesão ao interesse próprio.

O olho justo, capaz de exercer a sobre-humana tarefa do julgar, não pode ser turvado pela parcialidade, tem de afastar de seu caminho tudo o que confunde e ofusca o juízo e ser capaz de não retribuir a culpa com a culpa, a humilhação com a humilhação.

Justiça significa espiritualização da potência e, portanto, poder julgar sem ter de se defender, sem querer se vingar. "O filósofo tem de dizer, como Cristo: "Não julgueis!". E a última diferença entre as cabeças filosóficas e as demais seria que as primeiras querem ser justas, as demais querem ser juízes" (Nietzsche). Como dizia Zaratustra, justiça é o amor que todos absolve, exceto o julgador.

Com isso, defendo a confiança na missão pedagógica das instituições, que não podem ser vistas como fins em si, mas como meios para a estabilização das sociedades humanas. Defendo instituições fortes e flexíveis, um ordenamento jurídico seguro e eficiente. É necessária a certeza de todos sobre a eficácia do sistema penal --tanto da condenação quanto (e sobremaneira) de um escrupuloso e sensato regime de execução da pena.

Num Estado poderoso, instituições permitem e induzem o aperfeiçoamento dos cidadãos, de modo que, reciprocamente, no âmago da mentalidade deles se entranha o respeito pela "res publica". A reciprocidade legitima a coerção das liberdades individuais, equilibrando-a com o legítimo esforço pela ampliação dos espaços de criatividade e realização pessoais.

Sou radicalmente contrário à pena de morte, pois tenho em elevado conceito a missão de julgar. Antes de qualquer condenação, uma sociedade tem de conquistar o direito de julgar. Nossa sociedade hedonista e carcomida tem esse direito? Bagatelizamos o valor da vida a tal ponto que esta pouco se diferencia de qualquer outro produto. Quantos instantes de nossa existência podemos bendizer e acolher com desejo de perpetuação? Já não vivemos, consumimos nossas vidas, como desgastamos o mundo.

Para muitos de nós, uma vida nova é um fardo, um pesado encargo social --quando não uma mercadoria que encomendamos ao sabor de preferências narcisistas. Soterrou-se em nossa memória coletiva o encanto e o mistério com que acolhíamos cada novo advento. No dia em que pudermos exultar com ele, como com uma luz num mundo de trevas, então talvez possamos repetir um novo começo.

OSWALDO GIACOIA JUNIOR, doutor em filosofia pela Universidade Livre de Berlim (Alemanha), é professor associado do Departamento de Filosofia da Unicamp.

2.3.07

Comzstruimdo o coiesimemto

Quando fico muito tempo sem passar por aqui acumulo uma quantidade infindável de coisas as quais acho que tenho que dizer. A questão é o Alzheimer apaga quase tudo, e o que fica é só de o ontem, só o de anteontem, e talvez um pouquinho mais.

Mas vamos ao falar mal. Vamos rir um pouco.
Comecemos pelo construtivismo.

Há uns 10 anos atrás, um amigo meu disse que o construtivismo era algo ótimo, só que ninguém havia entendido a proposta direito, e que por isso ele não dava certo.
Adoro estas desculpas. Numa matéria que fiz em 2005 uns jiunguianos falavam a mesma coisa. É que Jung escreve difícil, complicado, embaraçado. Ou seja, trocando em míudos e pra gente esperta, Jung escrevia mal, além de escrever bobagens que hoje entram no campo da auto-ajuda, e só.

Bem, mas voltemos ao construtivismo. Quase na mesma época da fala do meu amigo uma bomba explodiu no colo dos pedagogos brasileiros. Descobriram que Piaget alterou grande parte dos dados de suas pesquisas empíricas para que elas se adaptassem às suas idéias. Ou seja, Piaget era um impostor.
E o que fizeram com esta informação? Ora, o sonho não podia acabar assim. Então, numa ação que é padrão, o que restou foi esconder o fato e fazer de conta que nada aconteceu. Assim o nosso progressismo intelectual avançou, e pudemos criar um bando de semi-analfabetos com os nossos avançados métodos de ensino.

Hoje todos os professores reclamam que seus alunos não sabem escrever, mas ninguém consegue (ou quer) pensar em uma relação de causa e efeito. Ninguém percebe que o défit começou a aparecer (é claro que o motivo não é apenas este) quando o construtivismo foi inserido nas escolas.

E o mais engraçado de tudo? O mais engraçado é que nós, que sempre ocupamos as últimas posições nas avaliações internacionais, somos um dos únicos lugares do mundo em que o tal do construtivismo ganhou espaço. Lugares onde a educação praticamente não funciona como Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Itália, Noruega, Canadá, ou outros subdesenvolvidos do conhecimento, não querem nem saber de construtivismo.
Mas é claro que somos diferentes, que não temos que seguir padrões que dão certo.
Somos um povo criativo, que faz carnaval e boa música. Somos sábios e morais de nascença, não é isso? Tanto acreditamos na nossa sabedoria transcedental que botamos o maior dos sábios no Palácio.

Abaixo o B + A = BA. Abaixo a lógica, e viva a nossa esbórnia.